Azulejos da cidade
numa parede ou num barco
são ladrilhos da cidade
vestida de azul e branco.
Bocados da minha vida
todos vidrados de mágoa
azulejos despedida
dos meus olhos rasos de água.
À flor de um azulejo uma menina
do outro um cão que ladra e um pastor
Ai! Moldura pequenina
que és a banda desenhada
nas paredes do amor.
Azulejos desbotados
por quantos viram chorar
azulejos tão cansados
por quantos viram passar.
Podem dizer-vos que não
podem querer-vos maltratar
de dentro do coração
ninguém vos pode arrancar.
À flor do azulejo um passarinho
um cravo e um cavalo de brincar
um coração com um espinho
uma flor de azevinho
e uma cor azul luar.
À flor dum azulejo a cor do Tejo
e um barco antigo ainda por largar
distância que já não vejo
e enche Lisboa de infância
e enche Lisboa de mar.
dos Santos, Ary in AS PALAVRAS DAS CANTIGAS, edições AVANTE
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