Nossa Senhora
Das coisas impossíveis que procuramos em vão,
Dos sonhos que vêm ter connosco ao crepúsculo, à janela,
Dos propósitos que nos acariciam
Nos grandes terraços dos hotéis cosmopolitas,
Ao som europeu das músicas e das vozes longe e perto,
E que doem por sabermos que nunca os realizaremos…
Vem, e embala-nos,
Vem e afaga-nos,
Beija-nos silenciosamente na fronte,
Tão levemente na fronte que não saibamos que nos beijam
Senão por uma diferença na alma
E um vago soluço partindo melodiosamente
Do antiquíssimo de nós
Onde têm raízes estas flores de maravilha
Cujos frutos são os sonhos que afagamos e amamos
porque os sabemos fora de relação com o que há na vida
Hmm… Com o que há na vida.
Álvaro de Campos
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