Lisboa Minha Cidade

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Mirador de Santa Luzia

sexta-feira, dezembro 29, 2006

Pastelaria

Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura



Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio



Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante!



Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao
precipício
e cair verticalmente no vício



Não é verdade, rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola



Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come



Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!




Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir de tudo



No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra




Cesariny, Mário in ‘Nobilíssima visão, Assírio & Alvim (1991)

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