
ao lusco-fusco Mário
quando a branca égua flutua ali ao príncipe real
as bichas visitam-nos com suas cabeças ocas
em forma de pêndulo abrem as bocas para mostrar
restos de esperma viperino debaixo das línguas e
com o dedo esticado acusam-nos de traição
sabemos que estamos vivos ou condenados a este corpo
cela provisória do riso onde leonores e chulos
trocam cíclicos olhares de tesão e
ficamos assim parados
sem tempo
o desejo diluindo-se no escuro à espera
que um qualquer varredor da alba anuncie
o funcionamento da forca para a última erecção
lá fora Mário
longe da memória Lisboa ressona esquecendo
quem perdeu o barco das duas ou se aquele que caminha
será atropelado ao amanhecer ou se o soldado
que falhou o degrau do eléctrico para a ajuda fode
ou ajuda ou não ajuda e se Lisboa num vão de escadas
é isto
tão triste Mário sobre o Tejo um apito
Berto, Al in O MEDO edição ASSÍRIO & ALVIM
Sem comentários:
Enviar um comentário