Lisboa Minha Cidade

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Mirador de Santa Luzia

quinta-feira, outubro 26, 2006

Cesariny e o retrato rotativo de Genet em Lisboa



ao lusco-fusco Mário
quando a branca égua flutua ali ao príncipe real
as bichas visitam-nos com suas cabeças ocas
em forma de pêndulo abrem as bocas para mostrar
restos de esperma viperino debaixo das línguas e
com o dedo esticado acusam-nos de traição


sabemos que estamos vivos ou condenados a este corpo
cela provisória do riso onde leonores e chulos
trocam cíclicos olhares de tesão e
ficamos assim parados
sem tempo
o desejo diluindo-se no escuro à espera
que um qualquer varredor da alba anuncie
o funcionamento da forca para a última erecção


lá fora Mário
longe da memória Lisboa ressona esquecendo
quem perdeu o barco das duas ou se aquele que caminha
será atropelado ao amanhecer ou se o soldado
que falhou o degrau do eléctrico para a ajuda fode
ou ajuda ou não ajuda e se Lisboa num vão de escadas
é isto
tão triste Mário sobre o Tejo um apito

Berto, Al in O MEDO edição ASSÍRIO & ALVIM

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