© Photo: chico esperto. Elevador de Santa Justa - Lisboa.
Lawrence Ferlinghetti, meses depois do incêndio, subindo o elevador de Santa Justa que ele julgava ter sido projectado por Eiffel:
O homenzinho com olhos de peie
tomou o famoso elevador de Monsieur Eiffel
para subir e baixar e baixar e subir
mas enganou-se no botão
obedecendo aos arquivos da cidade
e desceu e desceu em vez de subir
até ao inferno do senhor Dante
e nunca mais se soube dele
e nunca mais tornou a ser visto
o homenzinho de olhos de peixe
desapareceu para todo o sempre
apesar de haver ainda um estranho odor a
peixe morto
em certos dias…
tomou o famoso elevador de Monsieur Eiffel
para subir e baixar e baixar e subir
mas enganou-se no botão
obedecendo aos arquivos da cidade
e desceu e desceu em vez de subir
até ao inferno do senhor Dante
e nunca mais se soube dele
e nunca mais tornou a ser visto
o homenzinho de olhos de peixe
desapareceu para todo o sempre
apesar de haver ainda um estranho odor a
peixe morto
em certos dias…
Quando o cheiro a podre deixou de se sentir, o social-cristianismo presidente do município daquela época pôs o colar de alto dignitário e subiu de elevador às ruínas do incêndio do Chiado para declarar a cidade livre de perigo. Mas lá em cima foi sacudido por um golpe de vento corsário e acto contínuo ficou com olhos de peixe monstro e a libertar o mesmo cheiro a podre que ainda há dias cobria a cidade.
Lawrence Ferlinghetti nunca soube que o presidente era o mesmo homenzinho de olhos de peixe que viajou no seu poema a caminho do inferno do senhor Dante. Nem que a população se vira obrigada a expulsá-lo para se libertar do cheiro que ele tresandava da alma.
Lawrence Ferlinghetti nunca soube que o presidente era o mesmo homenzinho de olhos de peixe que viajou no seu poema a caminho do inferno do senhor Dante. Nem que a população se vira obrigada a expulsá-lo para se libertar do cheiro que ele tresandava da alma.
PIRES, JOSÉ CARDOSO, in LISBOA - LIVRO DE BORDO, edições, Dom Quiote, 1997
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