
Tantas vezes lhe ocorria aquele pensamento de que tudo lá fora continuava, indiferente ao que se passava, ao que se decidia. Sentia-se atraída por essa ideia de deixar as coisas correrem, indiferente.
Seguia, de tempos a tempos, as conclusões bombásticas dos colegas, ia dizendo uns «claro» esquivos, escrevinhava gatafunhos que não tencionava vir a decifrar. Estava tão longe daquela sala. Sentia crescer aquela desilusão que a acompanhava ultimamente, sentia que tudo aquilo era um enorme desperdício de tempo, que nada valia a pena. Angustiava-se por se sentir assim, mas cada vez mais lhe acontecia perceber que tudo o que fazia tinha perdido o sentido.
Quando a reunião finalmente terminou, estava cansada e aborrecida. Resolveu sair logo do edifício, antes que alguém se lembrasse de lhe pedir alguma opinião, de comentar alguma decisão. Começou a andar pela rua fora, arrastando a pasta e a desilusão, as pernas pesadas e os olhos no fundo das órbitas.
Santos, Margarida Fonseca in "Uma Pedra Sobre o Rio", ediçõesDifel, S.A.
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